segunda-feira, 26 de maio de 2014

Breve história sobre funaná

Funaná é um género musical relativamente recente. Segundo a tradição oral, o funaná surgiu quando, numa tentativa de aculturação, o acordeão teria sido introduzido na ilha de Santiago no início do século xx, para que a população aprendesse os géneros musicais portugueses. O nome funaná é recente, surgiu nos anos 60 e 70. Para uns, o nome deriva da palavra portuguesa “fugagá”, e para outros o nome vem da junção dos nomes de dois exímios tocadores, um de gaita e outro de ferrinho, chamados de Funa e Naná.

As palavras mais antigas para designar o funaná eram “fuc-fuc” e “badju l´gaita” Funa tocava gaita (acordeão), e Naná sua esposa, tocava ferrinho (barra metálica, originalmente a lamina de uma enxada, com que se marca o ritmo ao ser friccionada com uma faca ou outro objecto metálico).

A fusão desses dois nomes (Funa + Naná) deu o nome ao estilo musical que hoje é conhecido por Funaná.  
Inicialmente era um género exclusivo de Santiago. Durante muito tempo o funaná foi relegado para um contexto rural e/ou para as camadas mais desfavorecidas da população. Chegou mesmo a ser proibida a sua interpretação na capital, onde era a morna que gozava de prestígio e de um carácter nobre.
Durante a década de 1970, e sobretudo depois da independência, houve tentativas de fazer ressurgir certos géneros musicais, entre os quais o funaná. A ideologia socialista da pós-independência, com a luta contra a desigualdade entre as classes sociais constituiu terreno fértil para o (re) surgimento do funaná, que até então era considerado música das camadas mais desfavorecidas. Essas tentativas não foram muito bem-sucedidas sobretudo porque «o funaná não conseguiu desgarrar-se da coladeira»

Em  1980, o funaná ressurgiu com o conjunto Bulimundo e o seu mentor Carlos Alberto Martins (mais conhecido por Catchás). Este “bebeu” directamente à fonte (o interior da ilha de Santiago). Catchás aproveitou os seus conhecimentos de jazz e música clássica para inventar um novo estilo de tocar o funaná, apoiando-se em instrumentos eléctricos, que viria a influenciar quase todos os artistas em diante. Graças ao sucesso do conjunto Bulimundo, o funaná foi exportado para todas as ilhas em Cabo Verde. Hoje, o funaná já não é visto como um género exclusivo de Santiago, sendo composto, interpretado e apreciado por pessoas de todas as ilhas.

 Os anos 80 foram anos da divulgação do funaná em Cabo Verde, os de 90 foram da internacionalização.
O conjunto Finaçon, nascido de uma cisão do conjunto Bulimundo, foi um dos responsáveis pela divulgação internacional deste género musical, graças a um contrato com uma prestigiada firma distribuidora estrangeira.Não só o funaná passa a ser conhecido internacionalmente, como é também interpretado por conjuntos musicais no estrangeiro, cabo-verdianos ou não.

A nível de técnicas musicais não se registam grandes inovações ao «estilo Catchás», talvez apenas no que diz respeito à orquestração (exploram-se as possibilidades dos instrumentos electrónicos). Verifica-se também, nesta altura, a excessiva comercialização e banalização do funaná. Durante um ano, houve a tentativa de divulgar o funaná em França. Essa tentativa não teve sucesso porque tentou-se vender o funaná como «música de moda para dançar no Verão» (logo a seguir à lambada), e não explorar as particularidades etno-musicais do funaná.
A partir dos fins dos anos 90 houve um retorno às raízes, onde os conjuntos preferem interpretações com gaitas e ferrinhos autênticos (ocasionalmente adiciona-se um baixo, uma bateria e uma guitarra). Um dos principais conjuntos dessa nova vaga é o conjunto Ferro Gaita. Assim reza a história a propósito da origem do Funaná.

 

Homens tocando ferro e gaita
Como género

Como género musical, o funaná caracteriza-se por ter um andamento variável, de vivace a andante, e um compasso binário. O funaná está intimamente associado ao acordeão, mais precisamente ao acordeão diatónico, conhecido em Cabo Verde por gaita. Este facto vai influenciar uma série de aspectos musicais que caracterizam o funaná, como por exemplo, o facto de, na sua forma mais tradicional, usar apenas escalas diatónicas e não cromáticas.
Como género musical, o funaná caracteriza-se por ter um andamento variável, de vivace a andante, e um compasso binário. O funaná está intimamente associado ao acordeão mais precisamente ao acordeão diatónico, conhecido em Cabo Verde por gaita. 

Dança do funaná
Como dança

A dança do funaná é menos sensual para apreciar mas é mais erótica e é mais acelerada. Nesta dança os pares agarram-se com uma mão à cintura e a outra, à mão do paceiro e começam a movimentar o corpo e os pés. Assim, os pares roçam-se e esfregam-se num ritmo frenético ao ponto de no final de uma música estarem todos transpirando de suor. Os pares podem ser também duas mulheres ou um homem e uma mulher. No modo de dançar mais rural, os corpos estão ligeiramente inclinados para frente (havendo contacto nos ombros), e os pés levantam-se do chão. No modo de dançar mais urbano, mais estilizado, os corpos estão na vertical (havendo contacto na zona peitoral), e os pés arrastam-se pelo chão.

Com o surgimento do funaná electrónico os bailarinos dançam ora aos pares ora isolados impondo novas técnicas e novas coreografias resultado de influência de outras danças, como a das bailarinas de continente africana, americana e europeu.

 

Características

A estrutura da composição do funaná não é muito diferente da estrutura de outros géneros musicais em Cabo Verde, ou seja, basicamente, a música estrutura-se num conjunto de estrofes principais que se alternam com um refrão. Só que, intercalando as estrofes e os refrãos existe um solo executado na gaita.
O acompanhamento é executado com a mão esquerda na gaita, fornecendo os baixos e os acordes. O modelo rítmico é executado no ferrinho.

A linha melódica do funaná varia muito ao longo da composição, com muitas séries de notas ascendentes e descendentes. Os cantores de funaná ocasionalmente utilizam a técnica do sforzando em determinadas notas, sobretudo quando elas se prolongam mais (imitação do acordeão).
As letras do funaná geralmente abordam situações do quotidiano, fazendo menções às amarguras e felicidades do dia-a-dia, mas também críticas sociais, reflexões sobre a vida e situações idílicas. Compositores mais recentes, no entanto, têm alargado o leque de temas. Uma característica das letras do funaná tradicional é que a poesia não é feita de um modo directo, mas usa frequentemente figuras de estilo, provérbios e ditados populares.

Exemplo: excerto da letra da música «Tunuca» de Orlando Pantera.
Letra em crioulo:
Tradução literal para Português:
Significado real:
Tunúca,
Crê-’u, câ pecádu,
Dâ-’u, câ tâ fládu,
Mâ, sô bú dâ-m’ quí tenê-m’


Tunuca,
Querer-te não é pecado,
Dar-te, não se diz,
Mas, só tu dares-me que me retém


Tunuca,
Não há mal em amar-te,
Não sei até onde estás disposta a ir,
Mas vivo ansioso com o que tu podes dar-me

 Tudo isso exige um bom conhecimento da linguagem e cultura populares, e é por isso que composições mais recentes, de autores mais jovens ou de aqueles que tem pouco contacto com a cultura popular nem sempre utilizam as técnicas de poesia referidas anteriormente.

1 comentário:

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